‘Cooperativa fantasma’ pode ter sido usada para desviar verbas de prefeituras do interior

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Um dos integrantes da Interativa é Geovan Ferreira Santos

Sem quadros próprios, diversas prefeituras de cidades maranhenses têm recorrido à diversas cooperativas fantasmas para manter o funcionamento dos seus órgãos públicos com a contratação de funcionários terceirizados. O contrato, além de burlar a lei da exigência constitucional do concurso público para o acesso ao cargo, estaria sendo usado supostamente para desviar verbas dos cofres públicos destes municípios.

É o caso, por exemplo, da Interativa Cooperativa de Trabalho e Serviços Múltiplos que recebeu, até o início de maio deste ano, mais de R$ 20 milhões de contratos firmados com prefeituras do interior. A cooperativa foi criada em janeiro de 2009, tendo Geovan Ferreira Santos como um de seus integrantes. Naquele ano, o primeiro contrato firmado com o serviço público foi com a Prefeitura de Timon. Atualmente, a Interativa está presente em mais de 20 cidades.

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O contrato mais recente da cooperativa foi firmado em março deste ano com a Prefeitura de Sítio Novo, no valor de R$ 3.414.384,00 (três milhões quatrocentos e quatorze mil, trezentos e oitenta e quatro reais). De acordo com extrato publicado no Diário Oficial do Estado, a entidade foi contratada para prestação de serviços de terceiros de apoio administrativos ao município sítio-novense, conforme documento em anexo.

TRÍPLICE ALIANÇA
Em 2014, a Interativa conseguiu a proeza de vencer três pregões presenciais e, portanto, firmar três contratos com a Prefeitura de Monção, o que chega a quase R$ 4 milhões. A contratação da campeã deveria atender o município em caráter complementar, prestando serviços de manutenção e apoio administrativo.

Para fazer a conta na ponta do lápis (ou da calculadora), cada contrato assinado para o rico apoio administrativo em Monção teve valor respectivo de: R$ 279.068,16 (duzentos e setenta e nove mil, sessenta e oito reais e dezesseis centavos); R$ 1.971.666,00 (um milhão, novecentos e setenta e um mil, seis- centos e sessenta e seis reais) e R$ 1.480.467,24 (um milhão, quatrocentos e oitenta mil, quatrocentos e sessenta e sete reais e vinte e quatro centavos). O contrato teve validade até 31 de dezembro do ano passado.

CONTRATO INVESTIGADO
Em 2012, a promotora de Justiça Theresa Maria Muniz Ribeiro de La Iglesia, da 16ª zona eleitoral, chegou a instaurar, procedimento preliminar de investigação judicial eleitoral para apurar a contratação de 994 servidores temporários pela Prefeitura de Cantanhede por meio da Interativa Cooperativa de Serviços Múltiplos Ltda. O contrato da empresa com a prefeitura era mais de R$ 3 milhões, equivalente a R$ 300.729,80 (trezentos mil, setecentos e vinte nove reais e oitenta centavos) por mês.

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Na época, o caso foi levado ao conhecimento da Promotoria por um eleitor do município que relatou um suposto esquema para favorecer o prefeito, José Martinho dos Santos (Foto/DEM), conhecido como “Kabão”, que disputava a reeleição.

Para investigar o indício de irregularidade na folha de pagamento dos contratados da Interativa, a Promotoria solicitou da Prefeitura toda a documentação referente à contratação da cooperativa. O Ministério Público Eleitoral investigou a regularidade do contrato e se este representou crime eleitoral pela possibilidade de influenciar o resultado final da votação.

CONTROVÉRSIA NA DOCUMENTAÇÃO
Após uma análise detalhada de documentos, o BLOG detectou controvérsia na documentação da empresa. A primeira irregularidade é na localização da empresa. No contrato firmado, em outubro de 2010, entre a Interativa e a prefeitura de Brejo-MA, no valor de R$ 6.533.211,72 (seis milhões quinhentos e trinta e três mil, duzentos e onze Reais e setenta e dois centavos), consta que a sede da empresa é na cidade de Aquiraz, região metropolitana de Fortaleza-CE.

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No entanto, dados da Receita Federal mostram que a cooperativa tem endereço fornecido, localizado na Avenida dos Holandeses – nº 8, Sala 01, Edifício M F Plaza, Calhau, em São Luís. Mas, durante uma investigação mais aprofundada, descobrimos que a empresa estaria ‘funcionando’ numa residência, localizada na Rua Guaraná, Olho D’água, bairro nobre da capital maranhense.

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‘Cooperativa fantasma’ funciona em residência no Olho D’água, em São Luís

COOPERATIVA DE NÃO SÓCIOS
De acordo com o Dicionário Aurélio, cooperativa pode ser entendido como “empresa organizada e dirigida pelos usuários de seus serviços, visando o benefício destes e não o lucro”. A Política Nacional de Cooperativismo foi regulamentada em 1971, e tinha por princípio que a “cooperativa seria uma associação de pessoas com interesses comuns, economicamente organizada de forma democrática, isto é, contando com a participação livre de todos e respeitando direitos e deveres de cada um de seus cooperados, aos quais presta serviços, sem fins lucrativos.”

Mas não é isso que vem ocorrendo com a Interativa Cooperativa. No papel, a ‘cooperativa’ existe apenas para burlar a lei e servir supostamente para desviar verbas públicas, conforme os indícios de irregularidades contatados até aqui. Nos próximos dias, o blog vai trazer o complemento desta matéria mostrando a lista das prefeituras que firmaram contrato com a ‘cooperativa fantasma’ e os processos que tramitam na justiça do trabalho por calote da empresa aos funcionários terceirizados. O cruzamento de dados podem revelar pistas de mau uso dos recursos públicos. Aguardem!

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