‘Potente ao mercado’, diz ex-secretário sobre os bairros periféricos
Em artigo, Simplício Araújo destaca que as empresas não podem ignorar essas comunidades tratadas apenas como espaços carentes
Por Simplício Araújo*
Por muito tempo, os bairros periféricos foram tratados apenas como espaços carentes, necessitando de políticas assistencialistas. Mas essa visão já não faz sentido. As comunidades da periferia são hoje grandes centros de consumo e empreendedorismo, movimentando cifras expressivas e se consolidando como um mercado em expansão.
Em São Luís, cerca de 35% da população reside na periferia, o que representa mais de *363 mil pessoas*. Bairros como Coroadinho, por exemplo, é a oitava maior favela do Brasil, com mais de 70 mil moradores, enquanto a Cidade Olímpica tem cerca de 100 mil habitantes. Com um contingente populacional tão significativo, é impossível ignorar o potencial econômico dessas regiões.
Segundo estimativas, só Coroadinho movimenta mais de 650 milhões de reais por ano, um valor superior ao de muitos municípios maranhenses. Esse dado mostra que esses territórios não apenas consomem, mas também geram riqueza. O empreendedorismo, por exemplo, é uma marca forte dessas comunidades, onde pequenos negócios crescem e prosperam apesar dos desafios.
Ainda assim, a informalidade persiste. Muitas empresas surgem sem registro formal, o que dificulta o acesso a crédito e a incentivos para expansão. Para as grandes marcas, isso representa um cenário de oportunidades e desafios: há uma demanda reprimida, mas ainda falta um olhar mais atento para esse mercado.
Com o crescimento da classe C em 3,8% em 2025, investir nesses territórios se tornou uma estratégia inteligente para empresas que querem expandir sua base de consumidores. Mas para isso, é preciso mais do que apenas vender produtos: é necessário construir uma comunicação autêntica e estabelecer relações verdadeiras com os moradores.
O comportamento do consumidor nestes bairros também tem particularidades importantes. A juventude é um fator determinante, já que a população dessas áreas é majoritariamente jovem e conectada.
Mesmo existindo um grande interesse por produtos de grandes marcas, a realidade impõe uma dificuldade de distribuição e pouca comunicação direta das empresas com esse público.
As marcas regionais saem na frente nesse cenário, pela agilidade na distribuição e pela relação de confiança com os comerciantes locais, elas conseguem ocupar espaços que grandes empresas ainda não enxergam. No fim das contas, a facilidade de acesso ao produto é um fator determinante para o consumo nessas áreas, especialmente quando falamos de itens de necessidade diária.
O poder de decisão nas mãos das mulheres é outro dado importante: a maioria dos lares é comandada por elas, que são responsáveis por decidir onde e como gastar o dinheiro da família.
Portanto, qualquer empresa que queira conquistar esse mercado precisa falar diretamente com as mulheres, entendendo suas necessidades e garantindo que sua comunicação seja assertiva e respeitosa.
Embora esse mercado tenha crescido por conta própria, o poder público tem um papel fundamental para garantir que esse desenvolvimento se torne sustentável. Isso significa investir em infraestrutura, segurança, acesso a serviços básicos e na formalização dos negócios. Não basta doar carrinhos para vendas, é preciso fazer isso com quem já tem registro ou ajudar nessa questão.
Além disso, a parceria entre governo e empresas pode acelerar o crescimento econômico dessas comunidades. A criação de programas de incentivo ao empreendedorismo, por exemplo, pode facilitar o acesso ao crédito e formalização de pequenos negócios. Ao mesmo tempo, conectar marcas e comerciantes locais para garantir preços acessíveis e produtos de qualidade pode beneficiar tanto empresas quanto consumidores.
Se as periferias de São Luís fossem uma só cidade, elas seriam a segunda maior do Maranhão, tanto em população quanto em movimentação econômica. Esse dado deixa claro que não se trata mais de um nicho, mas sim de um dos mercados mais promissores do estado.
Ignorar esse público é um erro estratégico. Empresas que não enxergarem esse potencial estarão deixando milhões na mesa. Por outro lado, aquelas que souberem se conectar com essas comunidades de forma autêntica terão não apenas um crescimento sólido nas vendas, mas também um impacto social positivo.
O mercado de bairros está pronto para crescer ainda mais, só perde quem não souber aproveitar essa oportunidade!
*Ex-secretário de Estado de Indústria e Comércio e analista de sistemas e negócios
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